Seringal São Gabriel, 30 de março de 1981.
Bem tardinha, 17 horas, ainda em meio das matas brenhas, já quase escurecendo, depois de ter feito todo o percurso e percorrendo e recolhendo o leite das tigelinhas das seringueiras, cerca de 20 ou mais. Com o balde cheio na mão, a espingarda no lado do braço, e na outra mão leva consigo os apetrechos, instrumentos de trabalho, Alemão retorna para o tapiri, casebre de palha onde faz a defumação da borracha. Chegando no local já de noite, Alemão faz o fogo embaixo da fornalha ou defumador feito de barro em forma de cone e um pequeno furo é por onde sai a fumaça. Feito o fogo, do balde o leite é despejado em uma bacia de alumínio que fica do lado da fornalha, o leite já na bacia, mexe o líquido com uma pequena vareta pra engrossar um pouco o líquido branco da seringueira. Próximo do tapiri, um bando de macaco capelão sobre galhos das árvores fazia um barulho ensurdecedor, os bichos pulando de galhos em galhos.
O seringueiro gasta pra fazer a defumação gasta umas 5 horas, para iniciar o processo da defumação, com a cuia de coité é derramado o leite sobre o roliço de nome cavador, 1,50 de comprimento que vai girando e derramando ao mesmo tempo. A melhor fumaça é do côco babaçu ou ouricuri. O homem já cansado pela árdua jornada de trabalho e o pior é ter que aguentar com a fumaça ácida que ardia nos olhos que lacrimejava e enchia os pulmões que só falta morrer sem fôlego, esse trabalho terminava lá pelas nove, dez horas e quando terminava, tomar banho, jantar e dormir.
No dia seguinte o mesmo procedimento, a mesma correria, a mesma labuta e quando chovia todo o trabalho era perdido, a água da chuva levava todo o leite das tigelinhas e além da seringa, a gente quebrava castanha e as vezes caçava qualquer animal para o sustento da família. A vida no seringal não era tão ruim assim, porque fartura nunca, faltava, era muito melhor do que viver na cidade passando fome e necessidades. Problema maior no seringal é o seringueiro nunca tinha dinheiro, pois o patrão roubava nos preços dos alimentos nas mercadorias que vinha das casas aviadoras.
A goma coagulada na qual o leite gruda facilmente, a péla vai engrossando até a formar a bola de cor escura devido a quentura da fornalha. Uma péla pronta de vários dias chega a pesar 40 quilos.
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