Depois de uns tempos sem trabalho e a dificuldade foi aumentando cada dia mais, saí a procura de trabalhos e foi aí que me disseram que a firma CONSTRUACRE estava precisando de homens para trabalhar na construção da ponte nova, a segunda ponte na capital e fui logo correndo até essa tal firma em busca de uma vaga para trabalhar e aí deu tudo certo, fui contratado e as coisas começaram a melhorar minha vida e da minha família também. Trabalhei até o final das obras que em 1975, ano que foi inaugurada no governo de Wanderley Dantas.
Depois de uns tempos morando na judia, minha mulher levou os três filhos para matricular na escola pública, o filho mais velho, Raimundo Nonato, apelido de pita, mas ele não gostou muito do apelido não, o tempo foi passando, e foi se acostumando, seus colegas dos tempos do Colégio Acreano chamavam-o por Pitter e aí a moda pegou.
As minhas duas filhas foram estudar a primeira série na escola Maria Angélica de Castro. Em 1981, depois de
nove anos morando na cidade, na mesma judia, já trabalhava de zelador na firma Santa Clara, com o ganho que recebia dava pra se manter. Certo dia recebi uma proposta para trabalhar na extração do látex no Seringal São Gabriel lá pelas bandas da Bolívia na divisa com o município de Plácido de Castro, esse dono do seringal me prometeu dizendo que eu ganharia muito mais cortando seringa e defumando borracha do que esse trabalho de zelador e dizia também na mata tem muita fartura da carne de caça, pesca e muitas fruteiras, não pensei em outra hipótese e achei que tava mesmo precisando ir embora da cidade para o seringal, não queria mais sofrer e ver minha família passar por necessidades. Primeiro tinha que combinar com a Célia se ela aceita ou não ir para o seringal.
Nesse caso ela aceitou e não tava aguentando passar por situações como essa. Eu e Célia arrumamos nossas coisas, duas malas de madeira com roupas e utensílios domésticos e tínhamos que levar na canoa à outra margem do rio, passando pelo campo do Oriente, um campinho que a molecada praticava um futebolzinho nos fins de semana e mais a frente uns simples casebres de madeira coberta de zinco e num desses casebres morava um conhecido de nome Augusto, deixamos nossas coisas lá enquanto chega um caminhão chevrolet de cor amarelo ano 77 de propriedade do José Ferreira Lima, conhecido por Ferreirinha, ele e mais dois empregados, Manoel Ribeiro, saudoso "caneco" e "toin" do saudoso "cantagalo", nessa as estradas de Rio Branco para Plácido ainda não tinha asfalto, longas horas de viagem pelas estradas de terras e aí foi quando o caminhão chegou, embarcamos nossos pertences na carroceria, antes de partir fomos se despedir dos parentes e amigos .
O caminhão já pronto pra seguir viagem e lá nós, eu, minha mulher e os cinco filhos, o mais velho decidiu ficar na capital por causa dos seus estudos no Colégio Acreano. Já bem tardinha, no dia 20 de março, às 17:hs30, quase escurecendo e o caminhão foi aumentando o pouco a velocidade, puxando 60, 80 quilômetros, cada vez foi ficando mais distante dos parentes e amigos a tristeza e a saudade só aumentando.
23 horas da noite, na carroceria do caminhão e embaixo de muita chuva, uma longa viagem enfim chegamos em Plácido e tava tudo escuro, nesse tempo as luzes da usina da cidade apagava mais cedo. Descemos todos do caminhão e fomos passar uma noite numa casa que parecia meio assombrada, aquela do meio, mas não acredito em superstição.
Amanheceu o dia e não nada para comer e tava sem nenhum centavo no bolso. Para nossa sorte já tínhamos alguns conhecidos em Plácido e fomos convidados para passar uns dias em sua casa até esperar quando o batelão chegar pra seguir viagem para o Seringal São Gabriel, de propriedade do Moacir Ferreira.
Comentários