Seringal São Gabriel, 29 de março de 1981.
Ainda era de manhã de domingo, depois daquela chuvarada deu, tinha começado logo cedo às 6 horas e só parou de chover foi lá pelas 9 horas, tomamos um café reforçado com pupunhas cozidas pra repor as energias e enfrentar uma longa caminhada pé na estrada, as tropas de burros iam na frente e o pessoal atrás sendo guiado pelos comboieiros para não se perderem na mata.
Depois que adentramos pelas florestas por entre árvores, percorrendo lentamente por cima toquinhos e raízes cobertas por folhas secas era cada tombo que levava,, mas seguia-mos andando em frente, embaixo de muita sombra e um ar puro que espalhava pelo ar. Os raios de sol passava pelas frestas das copas das árvores acompanhados pelos murmúrios dos ventos e os cantos dos pássaros que ao longe dava-se de ouvir.
Mas adiante avistamos um córrego de água das vertentes que corria para o igarapé, paramos para matar a sede.
Depois de léguas percorrendo as estradas, sentia câimbra nas pernas, cansados, com fome e sede, mas fomos andando e chegando perto avistamos uma bananeira com cacho carregado de bananas baé maduras, nós todos famintos e fracos, com um terçado um dos comboieiros cortou o cacho da bananeira e dividiu as bananas pra todos saciar a fome e seguir viagem que já estávamos chegando perto da colocação.
Chegada na colocação manga:
Quando já estávamos bem próximo da colocação, um córrego de água cristalina da vertente que corria para o igarapé dava pra ver os peixinhos nadando, paramos para beber água e matar sede e chegando mais perto e na nossa frente deparamos uma velha tapera tomada pelo mato e prestes a desmoronar, o patrão tinha dito que lá na colocação havia uma boa casa pra morar e logo que vi e isso me deixou triste. Sentei- me num canto e comecei a chorar, não sei se era de tristeza ou de raiva. Minha filha veio me consolar e pediu pra eu levantar a cabeça e começar uma nova vida.
Começamos logo os trabalhos pra tirar todo mato da casa, os comboieiros deixaram nossas coisas e utensílios domésticos no canto e se mandaram com sua tropa de burros para o barracão . Não tínhamos nada pra comer e para nossa sorte tinha uns pés de macaxeira na roça próximo da casa, eu e meus filhos fomos arrancar, pra descascar, lavar no igarapé e depois pôr pra cozinhar no velho fogão de barro à lenha, na tardinha a macaxeira já cozida, era hora de servir na janta, cada um com seu prato esmaltado na mão e depois da janta todos irem dormir na rede "atada" o que me incomova muito era os morcegos que ficavam sobrevoando pra lá e pra cá no teto de palha a espera de alguém pra dormir e atacar, digo chupar o sangue de quem dormisse sem o lençol e amanhecer quando for coçar a cabeça como se não tivesse acontecido algo.
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